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ORELHÃO

ÍCONE DO DESIGN

 

CARLOS 
DRUMMOND
DE ANDRADE

escreveu crônicas para o Jornal do Brasil, regularmente, às 3ªs, 5ªs e sábados, de outubro de 1969 a setembro de 1974. Reportou assim, o surgimento do Orelhão no cenário brasileiro, em sua crônica “Amenidades da Rua”

 

AMENIDADES DA RUA

De repente – notaram? – a rua melhorou em São Paulo, com o aparecimento do telefone-capacete. Bem que eu queria falar sobre ele, mas bobeei, e Ziraldo, com aquele humour (sic) que não pede licença para explodir , disse em cartoon o que eu tentaria escrever sobre o Orelhão. Ah, Ziraldo, isso não se faz.: ter, antes dos outros, as melhores idéias!
A verdade é que a rua ficou sendo outra coisa, com as pessoas descobrindo que não precisam mais fazer fila no boteco ou na farmácia para dar um recado telefônico. Na própria calçada, uma vez comprada a ficha no jornaleiro, comunicam-se. Tão simples. Em outras cidades desse mundinho que é o mundo, já se fazia isso há muito tempo, mas aqui é novidade grande/ gostosa.
A primeira experiência foi aquele fiasco. As cabinas cilíndricas despertaram a agressividade, o instinto predatório de alguns , e logo se tornaram ruínas. O usuário repelia a dádiva. Eram feias? Nem por isso. Eram úteis, mas os destruidores não repararam na utilidade. Vingavam-se, talvez, nas pobres cabinas, das frustrações e irritações acumuladas durante anos de mau serviço telefônico. Para não falar no gosto puro e simples de arrebentar, que dorme nas cavernas psíquicas do suposto civilizado, e que, se ninguém está perto para servir de alvo, ou com receio de levar a pior na arrebentação, desaba sobre as coisas, que não reagem.
A CTB não desanimou, e saiu-se com o telefone protegido por uma cuia invertida: um, dois, três aparelhos geminados. Agiu tão depressa, e bolou tão bem a coisa, que os vândalos ficaram tontos e não contra-atacaram, senão em escala mínima. A população tomou conta das cabinas, que não são cabinas, são uma cuia gozada, a céu aberto, uma cuia que fala. Simpatizou com elas. Aprovou-as.
Então começamos a reparar que a rua é afinal uma boa coisa, apesar dos automóveis que a entopem ou que fazem dela pista para treinamento para fittipaldis em potencial. E, na rua, a calçada é aquela parte boa em que é bom ir e vir, parar e até telefonar. Com depósitos metálicos onde você pode colocar o seu papel de sorvete. Com pontos de parada de coletivos, que indicam números de linhas à sua escolha. São pequenas viagens que se oferecem, em todas as direções. Sucedem-se as placas,

prestando informações que todo mundo consome, sem ligar para o esforço que toda essa sinalização representa. Uma série de códigos em ação para sua segurança. O hidrante está li, prevenido, para você poder continuar desprevenido. Ao lado dele, o telefone vermelho dos bombeiros. As pedrinhas que você pisa procuram diverti-lo, formando arabescos em preto e branco; de vez em quando interrompem o desenho para dar espaço a tampas que vedam condutos subterrâneos de que dependem a sua higiene, o seu conforto domiciliar, a sua vida. No leito da rua, pintaram listas amarelas que lhe permitem passar incólume, com ar superior de pedestre que despreza os motorizados, em frente à massa de carros subitamente imobilizados, impotentes para massacrá-lo. E não falei em outros serviços e dedicações mudas da rua para o citadino: a rua oferecida em árvores, toldos, lojas de tudo, escritórios, consultórios, jardins, cinemas, igrejas, oficinas; a rua, enciclopédia de utilidades e favores gerais. Tudo isso representando investimento, e que investimento colossal é a rua.
Nós a estimamos pouco, não sabemos prezá-la. Cuspir na rua, jogar-lhe detritos, conspurcá-la, são pecados que cometemos sem sentir, de tão habituados. Cobrar-lhe os defeitos, as lacunas, é costume velho. Mas celebrar-lhe e preservar-lhe as excelências, disso ninguém se lembra. Agora, o telefone-cuia dá ensejo para rimar, com satisfação”
Viva a cuia, aleluia!
E diz-se que vem aí uma nova caixa de correio, para aumentar as amenidades da rua. As que havia, raras e pesadonas, eram demasiado republicanas, com as armas nacionais em relevo dando a impressão de que só o Quintino Bocaiúva podia botar lá dentro sua correspondência; quem fosse monarquista, anarquista ou nada, estaria excluído. Desejo que a EBCT faça como a CBT: peça a um industrial designer que bole a caixa diferente, atraente, simpática: enfim, uma caixa que desperte no brasileiro, tão incorrespondente por natureza e por má educação, o desejo de escrever cartas, para o prazer de botá-las numa caixa bacana, a dois passos de casa; porque sendo a duzentos passos, o brasileiro desiste de escrever, mesmo que seja para pedir dinheiro ao pai.

ORELHÃO

 

MEMORIAL DESCRITIVO

O problema
Encontrar uma solução em termos de design e acústica para protetores de telefones públicos, que apresentem uma relação custo-performance melhor que a dos já existentes e que se adequem às condições ambientais.

As soluções existentes
1.Telefones sem nenhuma proteção, simplesmente instalados em paredes de bares, farmácias, etc.
2.Telefones em postos de serviços localizadas em edifícios e praças, de forma concentrada.
Estas soluções carregam em si uma série de inconveniências para o usuário e não atendem ao publico em geral.

Os projetos (o ovo, a origem)
Com o objetivo de encontrar uma solução inteiramente nova fizemos uma pesquisa sobre os materiais existentes e respectivas técnicas de execução. Escolhemos o acrílico e o fiberglass pelo fato de suas qualidades atenderem aos requisitos propostos.
Foram realizados estudos para três classes do problema: solução para ambientes fechados (o orelhinha), solução para ambientes semi-abertos (as conchas, principalmente para postos de gasolina) e solução para ambientes abertos (os orelhões modulares para logradouros públicos de um modo geral)

Primeiramente foi elaborado o projeto orelhinha, cujas dimensões são relativamente pequenas devido às limitações do espaço para qual se destinam.
A idéia surgiu em princípios de 1970 e por diversas razões o primeiro protótipo em acrílico de 6 mm de espessura só foi executado em meados de 1971 e colocado em testes pela então C.T.B. no saguão do seu edifício sede, onde até hoje está em perfeita condição de uso. O orelhinha foi projetado para ser fixado em paredes e em pequenos postes, podendo contudo, seu adaptado a muitos outros tipos de suporte.
Sua forma oval foi adotada não só por suas características acústicas e de design bem como pela sua coerência com o método de execução.

 

Os orelhinhas são transparentes com a finalidade de aumentar o espaço visual e coloridos para ressaltar a finalidade do uso da peça.
O acrílico do orelhinha reflete parcialmente grande parte do ruído externo incidente sobre a calota e projeta o restante do ruído que entra pela abertura frontal para o seu foco, que se encontra deslocada do ouvido do usuário médio, oferecendo uma boa eficiência na faixa de 30 a 50 decibéis.
Os orelhinhas encontram-se instalados em muitos postes de telefônicos públicos, supermercados, etc.

O projeto concha foi elaborado na mesma época que o orelhinha. As conchas foram projetadas especialmente para serem utilizadas em ambientes semi-abertos, como é o caso dos postos de gasolina. Por ser externo, as restrições de espaço passam a ser pouco relevantes, o que nos possibilitou realizar uma forma mais adequada à nossa proposição de criar uma imagem mais completa da prestação de serviços do posto, por exemplo.

Foi então elaborado o modelo 1, o mais simples, cuja forma é resultante de dois cortes planos em uma esfera de 1 m de diâmetro, deixando uma abertura frontal ao usuário e adaptando-se à parede de forma integrar-se ao todo. Sua maior abertura frontal é acusticamente compensada pela maior distância do foco ao ouvido do usuário médio (1,75 m de altura).

Estes modelos estão instalados em grande número de postos Shell.
O modelo 2 lateral evoluiu do frontal, efetuando-se uma rotação 90o em torno do seu eixo, obtendo-se as seguintes vantagens, com um custo ligeiramente mais alto: 1. Maior eficiência acústica, pois fica diminuído o ângulo sólido de entrada do ruído.
2. Maior eficiência, privacidade e estética ao se formar uma série de laterais, em que um modelo é o “fechamento” do outro.
Este modelo não está ainda em uso e pode ser aplicado em locais semi-abertos onde haja grande concentração de usuários, como em estações rodoviárias, parques, estádios, pavilhões de feiras, etc.

O modelo 3, lateral com aba, evoluiu do modelo lateral, complementando-o por uma aba cilíndrica, cuja superfície se adapta ao corpo semi-esférico superior concordando a espiral da aba com a abertura circular original, dando uma forma mais “espacial” à peça e também possibilitando maior proteção ao usuário contra chuva, vento, etc. sendo que as características acústicas são as mesmas do modelo 2.

As conchas foram projetadas também em acrílico (10 mm), são transparentes e incolores por se aplicarem em espaços semi-abertos onde o telefone é um elemento de apoio a uma outra atividade final. O princípio de funcionamento é o mesmo do orelhinha sendo que as conchas são eficientes na faixa dos 50 à 80 db de ruído.

Orelhão – O caso do orelhão é o mais delicado pois deve atender as condições mais desfavoráveis: aplicação externa, a todo tipo de público. Alto nível de ruído nas vias públicas e atendimento a concentração diferentes, para o que foi criado um modelo modular a três níveis, que pode ser facilmente desenvolvido para um número n de orelhões, bastando usar um adaptador adequado.

A sua forma foi desenvolvida com base no orelhinha, adequando-o à nova problemática e procurando atender a todos os itens da lista de registros propostos. Para o orelhão foi dispensada a transparência, necessária em ambientes fechados e semi-abertos, o que possibilitou a alternativa de fiberglass, que aumentou ainda mais as condições de privacidade do usuário. Seu funcionamento é análogo aos anteriores, sendo que atende bem à faixa de 40 à 90 decibéis, acima do que uma cabine totalmente fechada será o ideal.

 

"Calendário Lunar" - Orelhão customizado pelo
arquiteto Alan Chu para a Call Parede 2012

 

HISTÓRICO

1971
Criado em 1971, o Orelhão recebeu vários apelidos como tulipa e capacete de astronauta, porém seu nome técnico na CTB era Chu II

O Orelhinha, ou Chu I, de dimensões menores e feito de acrílico cor-de-laranja foi projetado para ambientes fechados.

Exemplares do Orelhinha foram instalados dentro da sede da Companhia Telefônica Brasileira (CTB) na rua 7 de Abril, no centro de São Paulo.

1972
A inauguração para o público se deu em janeiro de 1972, quando Orelhões foram instalados no Rio de Janeiro, no dia 20, e em São Paulo, no dia 25.

1973
A arquiteta Chu Ming participou da Bienal de Arquitetura de São Paulo com seus projetos de protetores telefônicos: Orelhinha, Concha e Orelhão.

Quando os orelhões começaram a ser exportados para outros países, a empresa Telesp substituiu a CTB na operação da telefonia no Estado de São Paulo.

1974
A pedido da Prefeitura de São Paulo, Chu Ming projetou modelos para bancas de jornais e de flores, a serem construídos em fibra de vidro, como os protetores telefônicos que a notabilizaram.

1975
Os Orelhões azuis, para chamadas interurbanas, chegaram às ruas. 

1980
O Orelhão integrou a exposição “Design e Comunidade”, organizada pelo Núcleo de Desenho Industrial da CIESP, no prédio da FIESP, em São Paulo.

1982
O Orelhão fez parte da exposição “O Design no Brasil, História e Realidade”, organizada pelo Museu de Arte de São Paulo, no SESC Pompéia.

A Telesp inaugurou o primeiro Orelhão comunitário, na favela da Vila Prudente, em São Paulo, possibilitando aos moradores receber chamadas.

1992
As fichas telefônicas foram substituídas pelos cartões telefônicos.

1998
Os Orelhões ganharam a cor verde-limão, marcando a aquisição da Telesp pela espanhola Telefónica, como parte do processo de privatização da Telebrás.

2003
A arquiteta Chu Ming foi postumamente premiada pela Universidade Mackenzie, onde estudou, pelo projeto do Orelhão.

2009
Orelhão fez parte da exposição “Ícones do Design”, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.

2010
O Orelhão integrou a exposição “Tão longe, tão perto”, organizada pela Fundação Telefónica, no Museu de Arte Brasileira da Faap

2012
A “Call Parade”, organizada pela Vivo, homenageou o Orelhão e sua criadora, com a exposição de cem Orelhões customizados por renomados artistas e designers brasileiros, nas ruas de São Paulo.

2016
Orelhão completou 45 anos em atividade.

PROJETOS
ORIGINAIS

Os desenhos apresentados nesta seção incluem cópias dos originais dos três projetos apresentados na I Bienal de Arquitetura, em São Paulo, pela Arquiteta Chu Ming Silveira.

Além de sua assinatura de próprio punho, há também o carimbo de sua assinatura em chinês, que costumava utilizar em trabalhos publicados.

O memorial descritivo está redigido à mão, exatamente como apresentado na Bienal.

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IMPRENSA

 

JORNAIS

O Estado de São Paulo, 21 de janeiro de 1972
“O carioca inaugura telefones”
“Em cada cabina foi colocada uma fitinha amarela e, preso ao aparelho, o aviso: Hoje é dia de São Sebastião. Por favor, corte a fitinha e inaugure este telefone em nome de todos os cariocas.”

Diário de São Paulo, 23 de janeiro de 1972
Capital acorda no dia 25 ganhando presente da CTB
“ Quando a cidade, fundada por Anchieta, amanhecer, no dia 25 do corrente, festejando mais um aniversário, estará ganhando um colorido presente: 170 novas cabinas telefônicas públicas do tipo ‘Tulipa’. ”
418 anos: festa e presentes.
“Noventa e quatro cabines vão ser instaladas em pontos de maior movimento na área central da cidade.”

Suplemento de Turismo do “Estado de São Paulo”, 23 de janeiro de 1972
Para seu uso, com carinho
“todos que aqui vierem para turismo ou negócios, terão maior facilidade para se comunicar com seus hotéis, suas residências ou para resolver problemas que surjam”. E destaca palavras da arquiteta Chu Ming Silveira: “eu sabia que a melhor forma acústica era o ovo e, que além de simples, o projeto precisava permitir que a pessoa que fosse utilizar o telefone se sentisse à vontade”.

O Estado de São Paulo, 01 de fevereiro de 1972
CTB ensina a usar “orelhão”
“(…) deve-se ficar com a cabeça dentro do Orelhão, bem junto do aparelho. Assim, o barulho da rua não perturba a conversa e os dois interlocutores poderão se entender.”

O Estado de São Paulo, 17 de março de 1972
Os telefones ainda são poucos em SP
“Além das várias vantagens que oferece, o Orelhão custa apenas 500 cruzeiros, enquanto as cabines, que inicialmente foram utilizadas, ficam em 3.500 cruzeiros.”

Popular da Tarde, 07 de julho de 1972
A idéia de Chu Ming
“Parece história oriental, mas o nome completo da autora do projeto logo afasta a dúvida: arquiteta Chu Ming SILVEIRA. Foi ela quem projetou esse tipo de telefone público hoje batizado e crismado com o apelido bem popular de ORELHÃO!”

Jornal do Brasil, 07 de dezembro de 1973
CTB venderá “orelhões” a Moçambique
“Os orelhões forma considerados excelentes para as regiões tropicais e perfeitamente recomendáveis para instalação em Moçambique, cujo clima é idêntico ao do Rio (de Janeiro).”

O Estado de São Paulo, 16 de novembro de 2003
Brasil, o país dos Orelhões
“O número de telefones públicos saltou de 547 mil em julho de 1998 para 1,3 milhão hoje, animando especialmente os fabricantes de cúpulas de fibra de vidro, um invenção brasileira dos anos 70.”

Orelhão vira bicho e é exportado para o Japão
“Cúpulas em forma de tigre, tênis, onça, arara e até berimbau conquistam mercado externo.”

Metro, 13 de agosto de 2009
Reportagem sobre a mostra “Ícones do Design”, de que fez parte o Orelhão, de Chu Ming Silveira, no Museu da Casa Brasileira, de 13 de agosto a 20 de setembro
“São Paulo é a capital do design este mês”

 

LIVROS E REVISTAS

ARQUITETO, publicação do Instituto dos Arquitetos do Brasil, depto. de São Paulo e do Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo. 
Ano 1, nº9, 1973
“A autoria do projeto do orelhão é da arquiteta Chu Ming Silveira, e a simplicidade das formas apenas disfarça as dificuldades de se conseguir soluções originais para problemas do tipo do telefone público.”

Isto É
nº 406, 03 de outubro de 1984
Quebrar por quebrar
“Em agosto, por exemplo, a empresa de Telecomunicações de São Paulo (Telesp) anotou em seus fichários um recorde que não mereceu comemorações: dos 27.626 telefones públicos espalhados pelo Estado, 1.640 foram depredados num mês, o que dá uma média de 54 telefones atingidos por dia.”

Revista TRIP
Ano 15 – dez 2001/ jan 2002, nº 96, pág. 126
Coluna QUINTAL, Design do dia-a-dia
Escuta aqui
Carlos Motta, arquiteto e designer:
“O Orelhão é um bem comunitário da nossa paisagem urbana. (…) Apesar de seus 30 anos, ainda tem muita vida pela frente. 

Seleções Reader’s Digest
Março de 2002, pág. 13:
seção “SÓ NO BRASIL, idéias, tendências e fatos interessantes do nosso país”
Yes, nós temos orelhão
“Talvez não esteja nos seus planos viajar para países como Angola e China. Mas, se por acaso for a algum deles, não fique surpreso ao topar com um orelhão idêntico aos nossos. Até porque, sim, ele é made in Brazil.”

Veja São Paulo
25 de junho de 2003
Seção Mistérios da Cidade 
A evolução das cabines telefônicas
“Os chamados ‘orelhões’ surgiram em 1972. Antes, não havia telefone público nas ruas da capital.”

Pequenas Empresas & Grandes Negócios
agosto de 2004
A Vez do Design Nacional, reportagem de Katia Simões
Box com fotografias: Prata da Casa
“Orelhão: criação da arquiteta Chu Ming Silveira, surpreendeu a todos, em 1971, pela simplicidade das formas e a boa acústica obtida com a fibra de vidro…”

Top Magazine
Ano 7 – edição 83 – 2005, pág. 73
O Gênero das Invenções, reportagem de Mariana Zafaloni sobre mulheres inventoras, dentre elas, Chu Ming Silveira
“(…) foi encarregada de criar uma solução simples e barata para protegê-los (os telefones públicos) de agentes externos. Daí a idéia de fazer uma estrutura de acrílico em forma de ovo (…)”

BRAVO!
Edição Especial, 2008, pág. 109
100 Objetos essenciais do design mundial
“O Orelhão, um clássico brasileiro”

O Design no Brasil História e Realidade
MASP de 1982 “pg. 98 Protetor Telefônico (Orelhão) e ERRATA corrigindo autoria da Arquiteta Chu Ming Silveira

História Geral da Arte no Brasil
Instituto Walter Moreira Salles e Fundação Djalma Guimarães Desenho Industrial/Julio Roberto Kalinsky pg. 940 – Equipamentos Urbanos 1983

Almanaque Anos 70
Ana Maria Bhaiana, EDIOURO 2006, pg. 42 - Maravilhas da modernidade brasileira: O orelhão

Ícones do Design França
Brasil, Museu da Casa Brasileira, 2009, pg.120 - Cabine telefônica

Superkilen
A project by BIG, TOPOTEK 1, SUPERFLEX
Edited by Barbara Steiner, 2012, pg.66

 

CHU
MING
SILVEIRA

Xangai, 4 de abril de 1941 
São Paulo, 18 de junho de 1997

 

INVENTORA E ARQUITETA BRASILEIRA

Formada em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, em 1964, notabilizou-se pela concepção dos protetores telefônicos, popularmente conhecidos como Orelhinha e Orelhão. Ícones do design brasileiro e do mobiliário urbano mundial, os protetores telefônicos foram nomeados pela Companhia Telefônica Brasileira quando de seu lançamento, Chu I e Chu II, respectivamente, em homenagem à sua criadora[1]. O ponto de origem de seu bem sucedido projeto foi o formato do ovo, segundo ela, “a melhor forma acústica”.[nota 1]

A simplicidade e o respeito às forças da natureza caracterizaram também seus projetos residenciais no litoral paulista, especialmente na Ilhabela, onde desenvolveu um estilo singular, por ela denominado “Pós-caiçara”, em que utilizava materiais e técnicas contemporâneas em harmonia com a cultura tradicional caiçara.

Ao longo da carreira profissional, além da Arquitetura e do Design, Chu Ming dedicou-se à Programação Visual.

O ORELHÃO

Em 1971, quando chefiava o Departamento de Projetos da Companhia Telefônica Brasileira, Chu Ming assumiu o desafio de criar um protetor para telefones públicos que reunisse funcionalidade e beleza. Que caísse no gosto dos brasileiros e se integrasse perfeitamente ao mobiliário urbano. E a partir da forma do ovo, simples e acusticamente a melhor, segundo a arquiteta, foram desenvolvidos os chamados Orelhinha e Orelhão. À época de seu lançamento foram denominados pela CTB, Chu I e Chu II, em homenagem à sua inventora. O modelo Chu I, em acrílico cor-de-laranja, foi idealizado para telefones públicos instalados em locais fechados, como estabelecimentos comerciais e repartições públicas, ao passo que o Chu II foi concebido para áreas externas, fabricado em fibra de vidro nas cores laranja e azul, resistente ao sol e à chuva, ao frio e às altas temperaturas brasileiras. As cidades do Rio de Janeiro e São Paulo receberam os primeiros telefones públicos com os novos protetores, nos dias 20 e 25 de janeiro, respectivamente. A população logo criou apelidos para a novidade, como “Tulipa”, “Capacete de astronauta” e o definitivo, “Orelhão”.

Em março de 1972, a CTB já comemorava o acréscimo de 12% na média diária de chamadas em telefones públicos, a partir da instalação dos Orelhões. Em 1973, foram exportados os primeiros Orelhões, para Moçambique, na África. Orelhões ou modelos inspirados no projeto de Chu Ming podem ser encontrados, hoje, em outros países da África, como Angola, em países da América Latina como Peru, Colômbia, Paraguai, e até mesmo na China, lugar das raízes de sua idealizadora.

Mas a tendência é que o número de Orelhões diminua, principalmente em função do crescimento da telefonia celular. No Estado de São Paulo, a Telefônica, responsável pela telefonia local desde 1998, decidiu desativar os Orelhões duplos e triplos. No entanto, a empresa deve conservar aparelhos de forma a garantir que o usuário não tenha que percorrer mais de 300 metros para ter acesso a um deles.